quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O que me encanta

Esforço-me para acolher e educar a criança rebelde, espalhafatosa, e, ao mesmo tempo, adorável que existe em mim. Gosto de mantê-la solta para fazermos algazarras, festas e rirmos até doer a barriga. Dou-lhe espaço e liberdade para brincarmos muito e adoro quando a percebo livre. Talvez seja essa a razão de eu ser invocada, com frequência por vários(as) queridos(as), pelo diminutivo do meu nome. Porém, não lhe entrego o comando das minhas atitudes e dos meus passos. Esforço-me para manter o leme da minha vida sob o comando do que sou agora: uma mulher adulta, esclarecida e responsável pelos seus afetos. Afetos não se barganham. Até a minha criança sempre soube disso. Quando eu era ainda pequena, as meninas abastadas que aglutinavam "amizades" em troca da concessão de tocarem seus brinquedos caros, não me seduziam para suas rodas. Ao mesmo tempo, nunca tive dificuldades para compartilhar com elas o meu território de papéis, corantes, galhos, gravetos, folhas e frutos do nosso largo quintal, sempre cheio de plantas e árvores frutíferas. As meninas abastadas sempre foram bem-vindas no meu universo, quando desejavam participar dele, sem qualquer tipo de barganha, só pelo prazer das nossas companhias. Criança ou adulta, nunca me causou deslumbramento a concessão de tocar brinquedos e/ou obter qualquer tipo de alcance material, através das minhas amizades; pois brincar com bonecas que falam nunca me interessou. Só pode ser leal quem não depende. Quem depende age por interesse e se "aproveita" da cegueira do outro quanto ao seu poder de encantamento natural. Somente o natural me encanta e me arrasta.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Sobre a tal "química"

Tentei me conformar com o pouco que me ofereceram. Tentei com todas as minhas forças. Luta ferrenha das "brabas" comigo mesma para aceitar a imensa generosidade que diziam haver no pouco que me cabia. Não consegui. Há quem diga que meu ego me impediu. (Vai saber? O tempo me dirá.) Há quem diga que isso é natural, pois a "química do muito nos relacionamentos" não se determina pelo tanto que eles possam sacudir o nosso baixo-ventre. Isso é SÓ sexo, aqueles dois minutinhos de cócegas no clitóris, possíveis de serem alcançados com êxito mesmo sozinha ou até com estranhos. A "química dos relacionamentos" está na Reciprocidade que se apresenta, seja positiva ou não, em todas as esferas da vida. É possível o sexo sem orgasmo e também o sexo sem química, mas não há como existir relacionamento sem Reciprocidade. Para mim, que sou alguém que ama de forma explícita, declarativa, sem segredos, que não me envergonho de nada que me faz bem e que, por isso, não necessito manter nada escondido dos meus amores; é fria total tentar amar quem não consegue, de forma alguma, dissociar desejo sexual de desejo de intimidade na vida. Quando minha memória me liga ao pouco perdido, recorro à lembrança dos enormes desconfortos que esse "desencontro" de visão me traz, sempre que insisto nos meus equívocos. Daí, o que me cura é a aproximação com quem me oferece, com naturalidade, a tal Reciprocidade que há muito além dos orgasmos. A isso eu chamo "química".

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Sobre desejos

Já desejei o que me transbordasse e quando o obtive, percebi que, paralelamente àquela deleitosa efervescência, aquilo me inundava, arrastando partes preciosas da minha "construção" numa enxurrada incontrolável. Também já desejei o que não me continha e percebi que, em meio à sensação de 'encontro", aquilo me apertava, machucando-me ao ponto de imprimir marcas na minha concretude. Daqui, desse "ponto em que estou, com meu Pai e minha Mãe", só desejo o que possa comportar com naturalidade minha inteireza, me acolhendo com a reverência e o reconhecimento recíprocos e naturais dos semelhantes que partilham carinho, amorosidade e prazeres, dispensando todo e qualquer tipo de esforço. Agora só desejo as efervescências que me completarem, sem me furtar de mim, e os aconchegos que me aninharem, sem me deixar um rastro de dores. Começo perceber que Amar é uma dádiva com medidas justas e precisas à qual nada falta nem sobra. Glória à Vida que tudo sempre ensina, mesmo àqueles(as), como eu, com tantas dificuldades e resistências em relação ao bom aprendizado. Desejo, igualmente, que todos(as) encontrem suas medidas exatas e confortáveis e que não lhes falte a ousadia libertadora de desfrutá-las por inteiro. Namastê e Namastudo!